Acabei de ler: Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago


Inaugurando categoria nova aqui no blog! uhuuul. Como promessa é dívida e no post de 'Diário' da semana passada eu prometi que faria a primeira resenha de livro pra vocês durante essa semana, aqui estou com a 'Acabei de ler'. Essa categoria, que fica dentro da categoria 'Biblioteca' serve para eu contar a minha opinião  sobre algum livro (todos os aspectos, incluindo físicos e literários) e falar um pouco sobre a história dele também.
Para minha alegria, o livro que eu acabei de ler mais recentemente é um livro ótimo, então, vamos inaugurar a categoria dando um salto de paraquedas com o pé direito. 


Ensaio sobre a Cegueira, do escritor português José Saramago (que já ganhou o Prêmio Nobel de Literatura), publicado pela Companhia das Letras, na 1ª edição (1995).
Vou começar falando um pouco sobre os aspectos físicos do livro: Não acho a capa dele super linda mas ela também não me incomoda, é um elemento neutro no livro e, considerando o quão bom ele é, acredito que a capa poderia ser mais bonita. 
O livro tem folhas amareladas (as folhas amareladas cansam menos rapidamente os olhos do que as folhas brancas), as margens, tanto externa quanto interna, são boas, o tipo da fonte, o tamanho dela e o espaçamento são padrão e eu gosto desse padrão, então, aprovado. 


Ele tem 310 páginas e é dividido em 'capítulos' que, na verdade, não são numerados, apenas sabemos que trocou de capítulo pela troca de página. Esses capítulos são de tamanho médio, o que pode incomodar alguns pessoas que gostam de terminar o capítulo antes de parar com a leitura (mania que perdi há muito tempo desde que ler se tornou um tempo de luxo na minha vida haha). 
A minha maior crítica é em relação a escrita do livro porque, nessa edição que tenho, as falas não são sinalizadas e ficam no correr do texto, o que, em um diálogo mais longo, pode atrapalhar - e atrapalha! - a compreensão de quem é o interlocutor no momento. Eu acredito que as edições mais recentes não sejam assim mas vale dar uma folheada no livro antes de comprar (se vocês verem um travessão, está tranquilo). 


Terminados esses dados técnicos, vamos para a história do livro. Eu prefiro não contar spoilers por aqui para não estragar a leitura das pessoas e para estimular que elas leiam (porque existem pessoas - oi, mãe! - que se descobrem o desenrolar da história, abandonam o livro). 
'Ensaio sobre a Cegueira' começa com um senhor que, na troca de luz vermelha para verde do semáforo, fica subitamente cego. Ele é ajudado por transeuntes e, aparentemente sem explicação, a cegueira passa a ser um mal contagioso e todas as pessoas que tiveram contato com esse primeiro cego, passam a ficar cegas também. 
A epidemia se alastra rapidamente e o governo decide alojar em um manicômio desativado, em quarentena, as pessoas que até, então, estavam acometidas do "Mal Branco" (a cegueira súbita, ao contrário da cegueira já conhecida por nós, deixa a visão branca, como se um eterno poste de luz nos cegasse com o ofuscamento). A partir de então, o livro passa a acompanhar a vida dessas pessoas no manicômio, a quantidade cada vez maior delas e a forma como lidam com questões de organização, liderança, partilha e posse de bens. 
No meio desse manicômio, existe uma mulher, esposa do oftalmologista a quem o primeiro cego foi consultar, que mentiu para o governo dizendo que também havia ficado cega. Esse mulher começará a relatar a história para seu marido e, indiretamente, para nós. 



Existem muitos pontos a serem analisados no livro (a sociedade em que vivemos, nossos instintos, nossos erros e acertos e as consequências de ambos) e, dentre muitos as aspectos interessantes no livro, é legal perceber como os personagens não tem nome porque, segundo os cegos, 'de nada adianta saber o nome um do outro'. 


Posso dizer que fiquei completamente apaixonada pelo livro! Nunca tinha lido nada de José Saramago, apesar de já conhecer um pouco de suas obras literárias (caiu no meu vestibular!), e agora quero ler cada vez mais livros dele. Mesmo com a questão da falta de sinalização de falas no livro, que chega a incomodar bastante durante a leitura, eu consegui apreciar esse obra-prima da literatura e ficar ansiosa demais com o desfecho das próximas páginas. Por mais que possa parecer, 'Ensaio sobre a Cegueira' não é um livro monótono e a cada página você fica tão envolvido que chega a sentir a ansiedade e o desespero daquelas pessoas com a sua cegueira sem explicação. Várias vezes depois de ficar lendo muito tempo o livro, quando eu parava, percebia como estava envolvida e imaginando realmente um mundo onde apenas eu ainda tivesse a visão (me colocando no lugar da mulher do médico). 

Trechos: 
 "Acompanhou-os à porta, balbuciou uma frase de confiança, do gênero Vamos ver, vamos ver, é preciso não desesperar, e quando se encontrou de novo só no pequeno quarto de banho anexo e fixou a olhar-se no espelho durante um longo minuto Que será isto, murmurou. Depois regressou ao gabinete, chamou a empregada, Mande entrar o seguinte.
Nessa noite o cego sonhou que estava cego." - Pág. 24.

 "Tenho de abrir os olhos, pensou a mulher do médico. Através das pálpebras fechadas, quando por várias vezes acordou durante a noite, percebera a mortiça claridade das lâmpadas que mal iluminavam a camarata, mas agora parecia-lhe notar uma diferença, uma outra presença luminosa, poderia ser o efeito do primeiro lusco-fusco da madrugada, poderia ser já o mar-de-leite a afogar-lhe os olhos." - Pág. 63.

"As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parecem que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura, diz-se." - Pág. 266.


Comprei o livro no meu sebo amado, Sebo Icária, em Pelotas (eles mudaram de endereço, então, tenho que me atualizar para contar para vocês onde ele está agora) e, como comprei há algum tempo atrás, não me lembro exatamente o valor que paguei. 

Alguém já leu esse livro? Me contem nos comentários o que vocês acharam. Quero muito saber! E se vierem a ler depois desse post, voltem pra me contar também. 
Beijos.

Obs.1: Não, eu ainda não assisti ao filme mas ouvi dizer que é muito bom; quero fazê-lo para comparar as duas formas de apresentar essa história fascinante. Já assisti ao filme, amores. Apesar de ter ouvido muitas críticas ruins, gostei do filme porque achei a forma como demonstraram a cegueira branca muito boa; sempre há cortes e sempre acho o livro melhor mas o filme é muito digno, sim! Juliane Moore e Gael Garcia Bernal estão sensacionais!
Obs.2: Se quiser acompanhar o meu processo de leitura, conferir outros livros que já li, se gostei ou não deles e os que ainda quero ler, é só me adicionar lá Skoob! Espero vocês por lá.

6 comentários:

  1. oi, já li e já vi filme, ainda bem que josé teve esse impacto sobre você. a única diferença que encontrei foi a dimensão do tempo. no livro pareceu-me que a cegueira foram meses e no filme, semanas. Com o tempo você vai-se habituando à maneira de ele escrever...é mais fácil até, você vai ver. não se esqueças de ler o memorial do convento, foi o meu primeiro livro dele e o homem duplicado, você nem imagina o seu final :)descubra também o homem, josé saramago era polémico porque não queria nunca deixar nada por dizer mas era um homem com H grande. Com um grande sentido de Humanidade e uma pessoa super criativa. Na minha opinião, ainda bem que ele existiu nesta vida :)

    Vanessa Branco, Azores, Portugal

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    1. Vanessa, adorei muito o seu comentário e adorei ainda mais saber que tenho leitores em Portugal! =DD
      Estou apaixonada por José Saramago, ele tem um dom com as palavras incrível mesmo!
      Já adicionei os outros títulos na minha lista - obrigada pelas dicas! E concordo com você: 'Ainda bem que ele existiu nesta vida'.

      Beijos e volte sempre!

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  2. foi aqui que vi o seu blog ;)
    https://www.facebook.com/fjsaramago

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    1. Aaaah, obrigada por me avisar, fiquei MUITO feliz! Nossa, uma honra ter o blog divulgado em uma página tão legal. Obrigada mesmo! ❤

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  3. Não é a edição que traz o texto sem travessões, todos os livros de Saramago são assim, É a escrita dele.

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    1. Olá! Siiim, verdade. Descobri isso alguns anos depois de ter feito essa resenha!
      Peculiaridades do autor mesmo!
      Beijos!

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