Política


O artigo que reproduzirei para vocês - na íntegra! - saiu na edição nº 633, de 5 de julho, da revista Época, pág. 43 e foi escrito por Guilherme Fiuza, que é jornalista e além de ter escrito o maravilhoso livro "Meu nome não é Jhonny" (sim, que virou o maravilhoso filme), escreveu este artigo de ótima visão sobre a situação atual da política brasileira, em especial, a corrida presidencial.

Espero que vocês gostem, leiam, divulguem e passem a acompanhar a revista, detentora de ótimas matérias.


Deu a louca no bolão da eleição

Sabem por que Dilma passou Serra nas pesquisas? Porque Serra demorou a escolher seu vice. Ah, sim: e porque Serra anda falando demais. E também porque é paulista demais, além de feio demais. Pronto, está explicada a liderança da candidata de Lula. A análise política está cada vez mais parecida com torcida de futebol. Quem ganha um jogo é gênio. Quem perde fez tudo errado. Estão até ficando raras as referências a Dilma Rousseff como marionete de Lula. É o poder mágico de 5 pontos no Ibope. A se confirmar essa tendência nas pesquisas, Dilma nem precisará mais de metamorfoses estéticas. Talvez possa até tirar umas férias do salão de beleza. Vão acabar descobrindo virtudes impensáveis naquela que, até outro dia, não passava de um poste.
José Serra não tem saída. Antes de se assumir candidato, o crescimento de sua adversária era consequência de seu silêncio. Agora, nove entre dez analistas explicam que ele se meteu em assuntos demais. E o pecado mortal: retardou a definição do candidato a vice em sua chapa.
É mais ou menos como explicar que a França caiu na primeira fase da Copa do Mundo porque seu técnico, o atormentado Raymond Domenech, demorou a escalar seu banco de reservas. E note-se que os reservas de uma seleção têm muitas mais chances de entrar no jogo do que um vice-presidente da República. Mas bolão é bolão. Se o candidato leva uma virada da adversária, a vida passa a ter de caber naquele prognóstico.
Quantos desses pontos conquistados por Dilma devem-se à escolha oportuna de seu vice? Quanto dá a soma do apelo popular de Michel Temer com o charme do PMDB? Se essa conta não for negativa, é lucro. Mas o problema foi a falta do vice de Serra...
Na vida real, as coisas são ligeiramente diferentes. Se o candidato do PSDB tivesse anunciado no dia 1º de janeiro que seu vice era Nelson Mandela, ou o Dalai-Lama, ou Pelé, a situação hoje seria exatamente a mesma. Para o eleitor, Serra é Serra, Lula é Lula (e também é Dilma, por hipnose coletiva). O que afinal fez Dilma, ela mesma, para assumir a liderança das intenções de voto?
Fora mudar o penteado e repetir por aí o nome do padrinho, absolutamente nada. Em tempos de Copa do Mundo, aliás, nem suas gafes e grosserias seriam notadas. Quem está em cena é o mesmo personagem de sempre: Luiz Inácio da Silva, o filho do Brasil, dando entrevista com a Jabulani no pé, polemizando com Maradona, fazendo proselitismo com a África negra, deplorando o Apartheid no país da Copa. O show tem de continuar. E, do alto da ribalta, ele deixa o lembrete de que pela primeira vez em 20 anos seu nome não estará na cédula. Ou estará, com outra grafia: Dilma.
Como cantaria João Gilberto, é só isso o meu baião, e não tem mais nada não. No oceano mitológico do lulismo, a "crise do vice" de Serra tem tanta importância quanto a escalação do lateral esquerdo da Austrália.
Enquanto Dilma fazia sua ultrapassagem espetacular, estourava o escândalo da invasão do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas, dirigente do PSDB. Escândalo? Que escândalo? A Receita Federal foi usada para mais um dossiê contra a oposição, ma o assunto mal bateu nos costados da candidata do governo. Ela está ganhando, e é isso o que importa no bolão eleitoral. O problema é o vice.
Agora há um problema maior: o vice foi escolhido. Os analistas vão ter de encontrar outro "erro" tucano para justificar a dianteira da candidatura lulista. Talvez ponham a culpa nas crescentes olheiras de José Serra.
Lula é o presidente bonzinho, amigo dos pobres, que descobriu o Brasil. Mito é mito. Deitado na cama do "neoliberalismo", empolga com seu discurso nacionalista. Escolheu para sucedê-lo uma candidata desconhecida, que afirma ter acabado com a inflação. O povo adora esses efeitos especiais. É o bolão do Avatar. Façam suas apostas.

Obs.: Se estou reproduzindo o artigo não é porque não tenha capacidade de escrever (talvez não tenha mesmo) nem porque quero plagiar, até porque estou dando todo e qualquer crédito. Estou reproduzindo, sim, porque acredito na importância de cultura para todo a população e, de preferência, de forma gratuita. Aproveitem!

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