São tempos difíceis.


São tempos difíceis.
Há alguns dias, tenho tido vontade de vir aqui nesse canto que amo tanto e pra onde dedico tanto, falar sobre o outro lado da minha vida, o lado médica/profissional de saúde/população de risco. Mas, ao mesmo tempo em que tenho vontade, sinto uma angústia de falar mais sobre o assunto e de tentar colocar em palavras tantos sentimentos e falhar, pois é inevitável falhar nesse momento.


Queria falar sobre como é difícil precisar ir trabalhar todos os dias e que, apesar do juramento, minha real vontade é ficar em distanciamento social, é não ser o vetor para a pessoa que amo e mora comigo. Queria falar que tenho vontade de chorar ao pensar em ir trabalhar amanhã sabendo que não terei aquele equipamento de proteção todo que aparece na televisão - talvez cheguem máscaras.

Ao mesmo tempo que começo a pensar em mim e no meu umbigo, lembro das pessoas que não têm renda garantida e que não sabem como vão sobreviver ao mês. Lembro de quem já está com familiares doentes por conta desse vírus e está travando uma batalha à parte e à distância da pessoa que ama.

E a gente fica tão centrado na nossa bolha, nas situações que nos alcançam que até esquecemos da margem; daqueles que sempre estão à margem. Tenho medo pela extensa população das favelas no Brasil que nunca teve o mínimo de assistência e que seguirá não tendo, que verá muitos e muitos e muitos dos seus serem mortos e não virarem nem estatística. Tenho medo pela população de rua; será que sabem porquê a cidade está vazia? Será que terão o que comer nos próximos dias?

Vejo pessoas (coincidentemente apenas grandes empresários) preocupados com a economia. Apenas coincidência, provavelmente!
Salvar vidas nunca foi uma prioridade; assim como nunca foi fortalecer o sistema de saúde, distribuir capital, dar renda e condições mínimas para os que precisam.

E eu, que nunca tive crises de ansiedade ou nenhum tipo de problema psicológico, passei a conviver com um aperto no peito, por mim e por tantos. Estou dentro do sistema de saúde, diariamente, e sei que não há leitos de UTI, não há ventiladores, não há nem material ou medicação. Falta o básico, sabe? Falta até organização sobre condutas, protocolos e medidas.

Nesse momento, não tenho - não temos - uma palavra de apoio, de carinho ou de força. A situação é desesperadora. Não nos preparamos como devíamos e ainda cometemos muitos erros durante esse processo.
Fiquem em casa. Cuidem-se. Lavem as mãos. Não cumpram as ordens do presidente. Escutem as grandes organizações de saúde.
Espero que amanhã (ou daqui uma semana ou daqui alguns meses) a gente acorde e o mundo esteja diferente. Por enquanto, a vontade de escrever sobre outros assuntos não apareceu, parece tudo tão insignificante no meio de tanta loucura; quem sabe, daqui a pouco, eu encontre a importância das pequenas coisas em meio ao caos.


Fiquem bem, fiquem em casa.
Cuidem de si, cuidem dos outros.

Beijos.

8 comentários:

  1. Oi Fêh, não sou da área da saúde e por mais que leia notícias e depoimentos como o seu acho que nunca poderei compreender completamente o que você passa. Deve ser muito difícil. Gostei muito do seu texto e dos pontos abordados. Vamos esperar que o dia de amanhã seja melhor. Fique bem e obrigada por continuar lutando!
    Abraços
    byjaque.com

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    1. Oi, Jaque! Verdade, também espero demais que amanhã seja ainda melhor, um pouquinho melhor a cada dia.
      E só continuamos nesse luta com a ajuda e apoio de toda a população. Então, o meu obrigada é pra ti também!

      Beijos.

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  2. Seu texto me tocou profundamente. É, são dias estranhos, mas tudo passa.
    Gostei do seu blog. Estarei por aqui agora.

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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    1. Oi, Emerson! Que bom te ver de volta!
      E obrigada pelos elogios. Esperança de que tudo vai ficar bem!

      Beijos.

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  3. as vezes é difícil acreditar que tudo que tá rolando é real. seu post me tocou demais e espero que vc e seus familiares estejam (e permaneçam) bem. que loucura tudo isso. são tempos difíceis e só torço também que as pessoas não ouçam esse presidente genocida e fiquem em casa, é o mínimo que nós (que não somos da área da saúde ou de serviços essenciais) podemos fazer em respeito à quem está lidando com esse caos todos os dias pra salvar vidas. obrigada ♥

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    1. Verdade, K. Eu fico um pouco pasma quando saio do automático e paro pra pensar em tudo que estamos vivendo porque parece cena de filme real!
      Por enquanto, estamos todos bem, sim mas tomando TODOS os cuidados pra continuar assim! E fico muito feliz com cada pessoa que vejo que segue mantendo o isolamento social pensando no seu bem e no de outros também!
      E eu que te agradeço também!

      Beijos.

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  4. Feh, parece que você estava lendo esse texto para mim, contando o que está sentindo. Felizmente eu posso fazer home office e não consigo imaginar o quanto deve estar sendo difícil, pra que você e para todos os profissionais da saúde (tenho uma prima que trabalha na farmácia de um hospital). E sigo orando para todos os profissionais, para a minha família e para os que não tem o privilégio que eu tenho.

    Beijos e fica bem! Deus está cuidando de você

    gabepinheiro.com.br

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    1. Muito obrigada, Gabe! Eu acredito que está sendo muito difícil para todos, em diferentes aspectos e pontos. Cada um com suas dificuldades e seus privilégios, né?!
      Todo o contexto ao nosso redor também não nos ajuda muito a ser otimistas e esperançosos. Dias melhores, dias piores e assim vamos levando!

      Desejo que tu e toda tua família fiquem bem também e que tudo se encaminhe pra melhor solução possível!
      Beijos!

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