Sozinha, em casa


Desde muito pequena e por motivos até hoje inexplicáveis para mim, quis ter minha casa. Inicialmente, quando meu mundo se resumia à casa de meus pais, eu dizia que iria construir uma igual a deles mas ia decorar de um jeito totalmente diferente. Depois, eu fui viajando e fui vendo pela janela do carro que existiam milhares de outras possibilidades; e aí, minha imaginação foi ao céu. Já nem sei mais dizer quantos projetos para minha futura casa já fiz. Nenhum deles prático e funcional, admito, mas cada um mais lindo que o outro.


Sair da casa dos pais e encontrar seu próprio canto sempre me fascinou e ainda me fascina. Quando me mudei, há um ano atrás, resolvi começar devagar. Não tive uma casa ou um apartamento para mim, tive um quarto. Mas nesse quarto, fui eu quem arrumei cada cantinho, foi com base apenas na minha opinião que decidi se os livros ficavam de pé ou deitados e descobri que não há prazer maior. Você sabe que vai encontrar o seu canto exatamente como deixou, arrumado, bagunçado, intransitável; no fim, não importa porque é a sua bagunça e a sua arrumação.

Eu sei que, quando chegar a hora de ir para minha casa de verdade, provavelmente, será um apartamento minúsculo onde não caberão aqueles jantares com vários amigos, os muitos cachorros que quero ter nem os muitos ambientes que eu adoraria decorar. Mas eu sei que lá, nesse minúsculo apartamento, caberá um colchão para uma amiga dormir em uma dia ruim, caberão os meus muitos livros onde eu quiser deixá-los e caberá toda a esperança renovada que vou carregar para aquele lugar.


Muitas pessoas que conheço se lamentam por ter saído da casa dos pais. Reclamam porque não tem mais a comida pronta e quentinha, não tem mais a roupa lavada e passada, não tem mais o privilégio de chegar em casa e não fazer nada. Mas, sinceramente, nada disso – ao meu ver - compensa a alegria de chegar em casa e estar você com você mesma.

Nessa época de férias, já faz um mês que estou “morando” novamente com meus pais. E, apesar de toda a saudade, sinto tanta falta do meu quartinho, aquele mesmo tão pequeno, apertado e lotado de coisas. Sinto falta da solidão, a solidão como escolha – não com obrigação, claro. Porque, ás vezes, eu simplesmente não estou com fome na hora da janta, eu não quero assistir o filme naquele momento; e não, eu não tenho nada melhor para fazer, só não quero. E não tem como explicar vontades sem justificativas. A não ser que você esteja grávida ou só tenha a você mesma, porque, nesse caso, o não querer basta.


Provavelmente, nos primeiros momentos em que estiver na MINHA casa, eu ainda vou sair correndo do banheiro para pegar a toalha esquecida (mesmo que mais ninguém possa me ver), ainda vou fechar a porta do quarto à noite (mesmo que não haja barulho de televisão na sala) e, com certeza, ainda irei rir demais dessas atitudes automatizadas e farei questão de refazer os passos e criar as minhas próprias manias.

As manias que só eu vou entender, que não vou precisar justificar porque, finalmente, estou na minha casa!


E vocês, já saíram de casa? Querem ou não querem sair? Me mandem dicas sobre a vida sozinho para coisaetal.fer@gmail.com ou comente o que você quiser.

Obs.: Peço muitas desculpas por ficar esse tempo enorme sem postar nada no blog mas, como vocês perceberam, mudei de casa e, digamos, que tenha sido um pouco complicado (já vem post sobre isso também) e não conseguia pensar em nada além do apartamento. Mas... agora voltei.
Beijos e até logo.

2 comentários:

  1. Escolher a solidão para estar com você mesma. É bem desse jeito que eu me sinto. As manias de quem vive em família também nunca se vão. Mas a saudade de casa às vezes aperta.
    Muito bom o texto Fer! Amei.
    O meu cantinho é pequeninho, mas sempre vai ter um colchão aqui pra ti baby!
    Beeeeijooos

    ResponderExcluir
  2. Aqui também, amor! E te espero mesmo!
    Beijoos

    ResponderExcluir